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Os parasitas do gênero Leishmania vivem preferencialmente em fagócitos mononucleares (macrófagos), tendo como algumas exceções fibroblastos, células dendríticas e neutrófilos38. Como não conseguem penetrar ativamente e passam a depender da ação fagocítica das células, principalmente através de interação entre receptores celulares do hospedeiro (CR1, CR3, manose-fucose), e moléculas de superfície do microorganismo, principalmente os lipofosfoglicanos (LPG) e a protease de superfície (gp63)52. Estudos
em modelos experimentais por inoculação de cepas de Leishmania
(L.) major mutantes que não expressavam as moléculas
gp63 ou LPG, mostraram redução na virulência da Leishmania,
indicando importância destas moléculas no estabelecimento
da infecção16. Outros estudos indicam que estas
moléculas agem em conjunto para o sucesso no estabelecimento da
vida intracelular do parasito. Durante a fase inicial da infecção
intracelular, a molécula de LPG seria responsável por inibir
a fusão do fagossomo contendo o parasita com os lisossomos contendo
enzimas líticas, pelo fato de inibir a maturação
do fagossomo7 8, enquanto que a gp63 ficaria responsável
por inativar as enzimas do lisossomo, caso a fusão com o fagossomo
ocorresse35. Porém, estes dados são controversos
aos resultados apresentados por Ilg e colaboradores (2001)15,
em cujo trabalho demonstraram que cepas de L.(L.) mexicana mutantes
sem expressão de LPG cresciam da mesma forma que cepas selvagens,
com constituição normal, em infecções in
vitro de macrófagos. Apesar da diferença apontada pelos
resultados, acredita-se que o LPG seja realmente um dos fatores de virulência
e infectividade mais importantes da Leishmania. Outra forma de controle exercida pelos macrófagos infectados é a ativação de células T efetoras por meio da apresentação de antígenos e fatores co-estimulatórios aos linfócitos. Dentre esses fatores tem-se a interleucina 12 (IL-12), que é o principal indutor fisiológico da produção de interferon gama (IFN-γ) e da diferenciação de células T em Th1. Assim, a IL-12 passa a ser considerada essencial para o desenvolvimento de uma resposta imune efetiva contra patógenos intracelulares. Assim sendo, uma forma eficiente de se escapar da destruição pelo sistema de defesa do hospedeiro passa a ser o controle da expressão de IL-12 pelo parasita. Estudo direcionado a observar se Leishmania era capaz desta regulação demonstrou que tanto o parasita quanto moléculas LPG e glico-inositol-fosfolípide (GIPL) isoladas do parasita são capazes de inibir de forma seletiva a produção de IL-12, sem inibirem a produção de outras citocinas26. A inibição da síntese de IL-12 está intimamente relacionada com a inibição da via Jak-STAT (Janus kinase-signal trasnducers and activators of transcription). A fosforilação defectiva de Jak2 está atribuída a uma rápida ativação da proteína citoplasmática tirosina-fosfatase (PTP), denominada SHP-14. Foi demonstrado que em animais deficientes de SHP-1, os macrófagos eliminavam a infecção por L. (L.) major, indicando ser a ativação de SHP-1 necessário para a sobrevivência de Leishmania em macrófagos12. As vias de sinalização Jak-STAT estão envolvidas em inúmeras respostas do macrófago, incluindo a indução de produção de citocinas pró-inflamatórias. Uma possível explicação da seletividade na inibição de IL-12 em infecções por Leishmania e a correlação com STAT1. STAT1 regula a proteína ICSBP, que por sua vez é importante para a ativação e transcrição do gene da IL-12p40 (sub-unidade p40 da IL-12). Camundongos de linhagem resistente “knock-out” para a ICSBP (animais geneticamente modificados que não produzem ICSBP) se tornaram animais susceptíveis à infecção por L. (L.) major13. Para as outras substâncias inflamatórias, tais como TNF-α, IL-1β e iNOS, a ativação ocorre por vias independentes da ativação de STAT1, o que, em parte, explica a permanência da integridade da resposta destas substâncias nas células infectadas com Leishmania. Além
do papel do parasita na inibição da produção
da IL-12, os macrófagos sofrem a ação de citocinas
moduladoras anti-inflamatórias IL-10 e TGF-β, que em outros
modelos de infecções experimentais (exemplo T. cruzi
e Toxoplasma gondii) têm papel importante na regulação
da parasitemia e da resposta inflamatória40. Quanto
à resposta anti-Leishmania, ainda não se tem confirmado
o papel destes moduladores na progressão clínica da doença.
Entretanto, estudos indicam que a superprodução destas citocinas
contribui para o crescimento incontrolável do parasita, dificultando
a cura das lesões, sendo considerados fatores importantes para
determinação de suceptibilidade in vivo3 17 39.
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